Documentos referentes a Elias Coelho Cintra
AUTOR: Alice Marcelino
DATA: 2022
TIPOLOGIA: Impressão sobre papel, com intervenção.
N.º DE INVENTÁRIO: MF.2022.003
N.º DE CATÁLOGO: #057
Memória Descritiva & A Falsidade Explicitada
Elias Coelho Cintra, foi um comerciante português e um dos maiores traficantes de escravos no início do Sec. XIX. em Pernambuco. Através do comércio de escravos, E.C.C. acumulou a uma vasta fortuna e influência política e social.
Sabe-se, através de registros encontrados no slavevoyages.org, que Elias Coelho Cintra era dono de pelo menos 10 embarcações náuticas, e responsável pela deslocação de mais de seis mil Africanos para Pernambuco no Brasil, entre 1814 e 1830.
Em 1824, adquiriu uma vasta propriedade no Recife, dando o nome de Sitio dos Coelhos, hoje em dia conhecida apenas como Coelhos. Apesar da intensa vida social e política que desempenhou, é curioso como Elias C.C permaneceu desconhecido — ou esquecido, ao longo da Historia.
O Diário de Pernambuco começou a ser publicado em Novembro de 1825, no Recife, sendo os seus principais destinatários pessoas ligadas ao comércio. O Diário de Pernambuco é o jornal de circulação contínua mais antigo editado em português.
O documento de relação da propriedade de escravos no nome de Elias Coelho Cintra é ficcional. Por sabermos tão pouco acerca dos detalhes dos seus negócios, achei importante questionar a ausência dessa informação, usando como referência documentos relacionados com transações de escravos pertencentes a outros donos de menos destaque, encontrados na coleção Isaías Alves, da Faculdade de Filosofia e
Ciências Humanas (FFCH) da Universidade Federal da Bahia.
As pessoas escravizadas descritas no registro, são, no entanto, reais. O artigo do Diário de Pernambuco é real e é através dele que nos é dada uma visão acerca da vida social e política, e uma breve noção acerca dos negócios exercidos por E.C.C.
Em várias edições do Diário, Elias C.C. publica anúncios a requerer informações de escravos fugidos ou furtados, assim como a publicação de entrada de barcos em Pernambuco carregados de escravos vindos da costa Ocidental de África, mais propriamente de Angola. É nos também informado pelo Diário, que Elias C.C. tinha como prática marcar os seus escravos a ferro e fogo com a letra E, inicial do seu primeiro nome.
O M.E.L é igualmente, e infelizmente, uma ficção.
A escolha destes objetos e a narrativa que a envolve é um olhar crítico à ausência de informação escrita em português e à ausência de espaços em Portugal que retratem honestamente a sua relação com a escravatura. E decididamente uma crítica à narrativa humanista, fortemente disseminada, que invisibiliza a violência do sistema político e econômico baseadas em ideologias racistas, praticada durante o Império Português.
Sobre Alice Marcelino
Brevemente
Esta peça foi criada para o Museu do Falso com o Apoio