O “statement” final d’O Carvalho-Alvarinho (Quercus robur) do Parque Aquilino Ribeiro

AUTOR: Miguel Soares
DATA: 2021
TIPOLOGIA: Som & Poesia
N.º DE INVENTÁRIO: MF.2021.019
N.º DE CATÁLOGO: #046

Memória Descritiva

A partir da questão que me foi inicialmente colocada – “se pensares em Viseu o que é que te surge na cabeça?” – emergiu uma imagem do agora adormecido Carvalho-alvarinho do Parque Aquilino Ribeiro. A imagem desta árvore centenária reverberou em mim toda a paisagem natural em que Viseu se insere, o contacto desimpedido com a natureza que permeia a cidade e os seus arredores. Imaginei que o “pequeno-gigante” se tinha deitado para um último sono e comecei a explorar formas de esculpir uma paisagem sonora que invocasse o ambiente afectivo de toda a vida arbórea que assistiu à partida de um dos seus. Usei um sintetizador modular Korg Volca, um pedal analógico de delay & pitch-shifting Chase Bliss Thermae, um pedal de delay digital Strymon Volante, uma interface de som Audient ID22, um computador portátil e o DAW Cubase LE AI Elements 10.5.

Inspirado pela expressão de Maurice Merleau-Ponty “… a linguagem é a voz de ninguém, uma vez que é a voz das coisas, das árvores, das ondas, e das florestas.” resolvi colher algumas ideias da obra poética de Manoel de Barros para compor o último statement sussurrado pelo Carvalho-alvarinho nos últimos instantes da sua “vida em pé”. Usei um microfone Neumann Kms 105 na captação da voz & a interface de som Audient ID22, o computador portátil e o DAW Cubase LE AI Elements 10.5 para registar e trabalhar o som captado.

O som da gravação foi pouco cuidado à exceção de alguns volumes e modulação de timbres – a peça, assim, soa crua, espontânea, reflexo da indomabilidade do mundo natural.

A Falsidade Explicitada

O Carvalho-alvarinho é uma árvore de folha caduca que pode chegar a viver até aos 1000 anos e não costuma ter doenças. As flores do carvalho-alvarinho florescem geralmente em Maio a partir dos 80 anos de idade.  Os imponentes exemplares desta árvore que povoam o Parque da cidade terão sido plantados pelos frades capuchos de S. Francisco. Este espécime que permanece agora deitado no Parque Aquilino Ribeiro ergueu-se até 45 metros de altura durante 384 anos. As sementes que caíram quando ele tombou foram plantadas nas 25 freguesias do concelho de Viseu. Tudo isto são factos.

Para além dos factos e da presença irrefutável do Carvalho no Parque Aquilino Ribeiro, diria que a peça e toda a narrativa que a envolve, são fruto da imaginação animada por uma sensibilidade poética – não o descreveria como falso, mas como um olhar que permite um sentido de abertura na nossa relação com as coisas da vida. Equacionamos habitualmente o falso como a não correspondência com os factos, neste sentido a história desta peça poderá comportar gradações de falsidade. Proponho, porém, sem querer perder de vista a premissa do museu, que a obra e o enredo que a envolveu, convivem numa relação de intimidade com a presença não manifesta que reverbera no corpo e na história factual do Carvalho-alvarinho – a inteligibilidade do invisível, ou o “eco do outro lado do silêncio” traduzidos em som e poesia.

Sobre Miguel Soares

Aprendiz da arte de viver, tenho vindo a dedicar-me ao som, à música, e a processos de transformação pessoal e coletiva. Sigo caminho tentando cultivar algo que nutra a vida e desperte a dança da imaginação – esse lugar onde o invisível se começa a afundar no corpo. A conexão, criação e performance sonoro-musical têm sido uma força motriz na minha vida junto com o trabalho enquanto musicoterapeuta no campo da saúde mental e desenvolvimento humano.
www.pedropires.pt

Esta peça foi criada para o Museu do Falso e teve como Parceiro Institucional

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