Cine Bizarro de Figueiredo ou memórias de um Carnaval de 1977
AUTOR: Cristóvão Cunha
DATA: 2021
TIPOLOGIA: Ready-made
MATERIAIS: Invólucro de Plástico; Frames de Película de celulóide 16mm.
N.º DE INVENTÁRIO: MF.2021.018
N.º DE CATÁLOGO: #045
Memória Descritiva
Aquando do desmantelamento dos Fornos Eléctricos de Canas de Senhorim, e numa visita “informal” do autor, este encontrou um antigo involucro de rolo fotográfico no chão do escritório da antiga Metalúrgica. Tinha um autocolante branco onde alguém escrevera a caneta “Memórias do Carnaval do Carregal de 1977”. Lá dentro negativos que o autor não conseguiu recuperar. Uns anos mais tarde, o autor, pertencente à direção do Cineclube de Viseu, assiste aos testes de projeção de uma sessão de cinema em 16mm. Durante a montagem da colagem de bobines, “na mesa de corte”, caem ao chão 4 frames do filme que acaba por guardar religiosamente no involucro encontrado nos Fornos Eléctricos.
A Falsidade Explicitada
Existiu um cinema em Carregal do Sal antes da abertura da Sala dos Bombeiros de Carregal do Sal em 1961, a que a população passou a designar como o Cine Bizarro de Figueiredo, que seria equipada com uma máquina de 35mm. Segundo relatos, a sala teria uma actividade regular até aos anos 60, sendo depois transformada em sala de baile. Não se sabe exatamente a data da sua fundação, mas terá sido inaugurada no pós-guerra, e segundo testemunho de Hermínio da Cunha Marques, que tem escrito livros sobre Carregal do Sal, foram exibidos os clássicos de cinema português bem como alguns americanos, com grande impacto na comunidade. Foi propriedade de Manuel das Farinhas, mas certamente influenciado por Eduardo Silvestre, dono da padaria Flor do Carregal mesmo do outro lado da rua. Eduardo Silvestre e Luís de Almeida Melo, iniciaram o Círculo de Cultura de Carregal do Sal, tendo juntado um espólio de quadros pintores portugueses só recentemente encontrados em 2008, num armazém por cima da padaria que fora propriedade de Eduardo Silvestre. Os quadros de João Hogan, João Ayres, René Bertholo, Artur Bual, José Júlio, Lurdes de Castro, Vieira da Silva, Nuno de Siqueira e Marcelino Vespeira, Albertina Mântua, José Mouga, João Vieira, Maria Eugénia e Cândido Portinari, entre outros, estão em exposição permanente no Museu Municipal Soares de Albergaria de Carregal do Sal. Luís de Almeida Melo chegou a corresponder-se com Vieira da Silva a viver em Paris. Também enviou cartas a Picasso mas, aparentemente, sem respostas. Morreu novo, aos 41 anos, mas tendo efectuado uma pequena revolução. Quanto a Eduardo Silvestre teve muitos problemas com a PIDE, mas evitou a prisão com a ajuda do Dr Manuel da Costa. O edifício deu nome a uma rua em Carregal do Sal, a Rua do Cinema Velho, mas quase ninguém sabe a sua história na vila. Segundo a minha mãe, era um sítio onde as raparigas solteiras acabavam por encontrar namorados nos bailes que aí eram organizados. Os atuais proprietários são descendentes do Sr, Manuel mas vivem no Algarve. O Edifício está atualmente em ruínas. Álvaro Cunhal foi efetivamente preso em 1949 no Luso.
Sobre Cristóvão Cunha
Cineclubista convicto, nasceu em Clermont Ferrand, França, em 1978 mas viveu em Carregal do Sal entre 1986 e 1996. União de Facto e três filhos vive em Viseu. Licenciado em Comunicação Social na Escola Superior de Educação de Viseu e curso de Comunicación Audiovisual na Univeridad de Ciencias Sociales de Salamanca. É atualmente desenhador de luz e diretor técnico de vários espetáculos de teatro e dança. Continua o seu ativismo cultural colaborando com a NACO em Oliveirinha, Carregal do Sal. Membro fundador, com a encenadora Sónia Barbosa, da Ritual de Domingo – Associação Artística. Ainda pertence aos órgãos sociais do Cineclube de Viseu desde 1997.
Esta peça foi criada para o Museu do Falso e teve como Parceiro Institucional