O primeiro registo fonográfico em território português

AUTOR: Anónimo
TIPOLOGIA: Música
DATA: 2012
N.º DE INVENTÁRIO: MF.2012.026

Disponível brevemente

Como grande apreciador de objectos insólitos, algo obscuros, não me foi difícil imaginar “Francisco” numa das habituais visitas à Feira da Ladra, em Lisboa.

Havia uma senhora velhinha, de cara bem enrrugada, expressiva, talvez tivesse sido esta senhora a inspirar-me o olhar ao seu amontoado de tralha, ali estava “Francisco”, o boneco mais assustador da feira. Neste momento tornou-se claro aquilo que deveria ser o meu objecto. Mas a cabeça parecia-me pequena demais, e isto levou-me a pesquisar doenças onde o sucedido pudesse acontecer; achei nanismo microcefálico, uma espécie anão, onde não só os membros, mas também o tronco e a cabeça sofrem uma anulação de crescimento.

Com a “criança” já no atelier, comecei por serrar-lhe a cabeça (e peço desculpa pelo sadismo da situação) e cortar os fiozinhos do interior. Com lixívia e acrílico branco, aclareei-lhe a face, como um morto deve ter; para ajudar dei-lhe umas queimadelas de isqueiro para amarelecer e uns azulados suaves a acrílico.

O ar de decepação violenta, com a rendinha ensanguentada que o rodeia, estava relacionado com a minha primeira ideia, num contexto que juntava cabeças falantes e radicalismos religiosos, felizmente abandonei estes assuntos. Mais tarde, também numa pequena feira de coisas antigas, consegui o frasco, dos armazens da Marinha Grande, um frasco velho e raxado, o ideal para sustentar uma peça da década de 30, supostamente.

Seguidamente, faltava uma alternativa ao formol, mais barata. Azeite. Foi o que decidi ao olhar através de uma garrafa do mesmo. E assim apertei a cabeça fortemente para entrar na minúscula abertura do frasco já com azeite e pedacinhos de feijão frade e óleo de atum.

No final criei digitalmente uma foto de ar envelhecido que pertenceria a um catálogo da época.

A Falsidade Explicitada 

O campo magnético terrestre não é uniforme e, de facto, apresenta variações consoante a posição geográfica, que podem ser bastante acentuadas. No entanto, o valor desse campo, mesmo no ponto de maior intensidade, é tão baixo que um simples circuito eléctrico com uma pilha é capaz de o ofuscar e confundir uma bússola.

As flutuações no campo magnético são incertas e um máximo de intensidade pode ocorrer em qualquer zona do planeta. Para esta história, considerou-se que esse efeito se registou em Viseu. No entanto, nunca poderia assumir valores suficientes para alimentar uma pequena lâmpada.

Uma viagem no tempo para o futuro é, não só teoricamente possível, como fisicamente comprovada. O engenheiro russo Sergei Avdeyev passou 747 dias abordo da estação russa Mir tendo, por isso, envelhecido 0.02 segundos menos do que qualquer outra pessoa na superfície da Terra. Este efeito deve-se à dilatação do espaço-tempo que acontece quando algo é sujeito a velocidades muito elevadas. Avdeyev é detentor do recorde da dilatação temporal experimentada por um ser humano, à data da escrita deste artigo (Setembro, 2012). Quanto maior for a velocidade, maior é o efeito da dilatação. No entanto, para conseguir as velocidades elevadas necessárias para se efectuar uma viagem ao futuro – tal como a imaginamos, é necessária uma quantidade enorme de energia – mais do que a humanidade inteira dispõem actualmente.

As ideias rabiscadas no caderno são, nada mais, do que equações e leis da física dispostas de maneira quase aleatória – sem alguma ligação verdadeiramente coerente. O objectivo é tornar a história plausível aos olhos destreinados.

Sobre Tiago Pimentel

Um autor mais conhecido, no meio artístico, pelo seu pseudónimo “João Pestana”. Uma pequena artimanha para diferenciar a dualidade de uma personalidade um tanto complexa. É obcecado por ciência exacta, tendo por isso estudado Engenharia Electrotécnica e Física. Contudo, pode dizerse que é também um bicho de duas caras, devido à sua admiração pelo mundo abstracto da arte onde se entretém a experimentar com a escrita e a fotografia.
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