
Memória Descritiva
Esta peça compõe-se por dois elementos: Um tambor metálico retirado de uma máquina de lavar. Um «ready-made», portanto… o objectivo desta escolha estará justificado adiante; e um artigo de jornal também falsificado, que «explicará» a relação entre o objecto e a Cava de Viriato.
Tratando-se o presente desafio (Museu do Falso), propus-me desde o início tornar evidente a «fraude» associando um local mítico da cidade (Cava de Viriato) a um objecto notoriamente «alienígena» a toda a discussão académica sobre a origem da Cava (que no limite se confunde com a origem de Viseu).
Com uma forte componente irónica, este «ready-made» é arbitrariamente associado a um local da cidade, para ironizar as relações fortuitas e pouco científicas que alguns «curiosos» das ciências humanas estabelecem entre o mito e o facto historicamente comprovado. O autor portanto, opta aqui por mostrar o« gato todo», em lugar de lhe deixar apenas a cauda de fora!
O facto de se tratar de uma peça de aparelho que servia para lavar roupa suja, também terá as suas implicações mas isso já é outra história!…
Falta referir que o tambor metálico terá sido decerto fabricado em série, numa das linhas de fabrico/montagem da marca em causa… Já o «artigo de jornal» foi executado digitalmente e impresso não numa tipografia, mas numa impressora de vulgar computador…
A Falsidade Explicitada
Embora no texto de Catálogo se tente ligar a Cava de Viriato à exploração de um metal precioso, a sua origem é bem menos fantástica. Como escreve o Dr. Pedro Sobral no cromo “A Cava de Viriato”, da Viseupédia:
“Singular e monumental, a Cava de Viriato é uma das mais emblemáticas obras de engenharia da terra conservada na Península Ibérica.
Este magnífico monumento começou assim a ser denominado a partir do séc. XVI. Foi uma época em que havia uma necessidade desmedida de afirmação da identidade nacional que veio a ser consubstanciada anos mais tarde com a Restauração. Os heróis da Restauração foram comparados aos Lusitanos e ao seu mítico chefe é então atribuído o maior monumento de Portugal. Podemos afirmar com alguma certeza que este monumento deve corresponder a uma cidade-acampamento (qal´a) de época islâmica, seja da conquista do séc. VIII ou do período de Almansor. Entre os séculos VIII e XI, Viseu foi uma típica cidade de fronteira, ora disputada por cristãos, ora por muçulmanos.
O território entre Douro e Mondego foi domínio islâmico precário desde as conquistas de Musa e Abd al-Aziz em 714 e 715, até à segunda metade do séc. IX. Este domínio só se torna efectivo nos finais do séc. X com as campanhas militares de Almansor (o Vitorioso). (…)”
Toda a informação pode ser consultada na publicação nº01 da Viseupédia.