
Reportagem “Viseu Escola da Sagres Summit”
AUTOR: Ricardo Loio
TIPOLOGIA: Vídeo
DATA: 2012
N.º DE INVENTÁRIO: MF.2012.010
Memória Descritiva
Sendo um vídeo de época, e sendo essa mesma época, ainda bastante limitada na área do audiovisual, onde as escassas informações são uma constante, podemos dizer que 70 anos depois se torna difícil construir esta peça. Poderei começar pelas simples características das ruas, já que teríamos de encontrar um local que simbolizasse a eventual sede da “Escola de Sagres”. Mas infelizmente para esse trabalho, o que outrora existia já pouco está presente hoje, por isso, foram precisas horas a deambular pela cidade, para encontrar algo que se identificasse com aquilo que pretendíamos.
Uma outra questão, desta vez, mais técnica é que teria que utilizar um sport digital para a gravação do vídeo (Canon XL1s, Mini DV), já que seria difícil ter acesso às bobinas de antigamente. Depois de recolher a tal imagem desejada, deparamo-nos com outra pequena aventura, “a pesquisa”. Mais uma “luta”. Os filmes noticiosos dos anos quarenta são raros, principalmente os portugueses, já que nessa altura ainda não existia nenhum canal televisivo. A solução seria então recorrer aos serviços noticiosos Ingleses, e aí sim, tudo se vai tornando mais simples, principalmente na edição, graças às ferramentas de que hoje dispomos (Adobe Premiere, After Effects, Photoshop).
A partir daqui, o processo passaria apenas por aproximar o mais possível as reproduções á imagem dos anos 40, (escurecê-las e sujá-las, decompô-las para preto e branco, dar-lhes cintilação, aumentar-lhes o Noiser).
Para terminar, o processo de gravação áudio foi exatamente o mesmo que utilizei no vídeo, a gravação e edição digital (Adobe Audition). Houve ainda o cuidado de o aproximar sonoramente à década (o exagerar do treble e do bass até perder a maioria dos graves, dando-lhe assim também algum ruído).
Possivelmente, poderei dizer, que foi sem dúvida alguma um dos projetos mais complicados, mas ao mesmo tempo mais interessantes e aliciantes, que até hoje abracei.
A Falsidade Explicitada
Não tendo existido qualquer Viseu Escola da Sagres Summit, há contudo algumas referências que são inequívocas.
O Infante D. Henrique (O Navegador) foi Duque de Viseu – o primeiro dos duques de Viseu, título sempre adstrito à Casa Real – e António de Oliveira Salazar foi aluno na cidade: A historiografia local não produziu ainda uma linha de estudos sustentados sobre o que foi Viseu durante o século XX, passando por vezes a ideia de que por ser uma cidade de província foi sempre provinciana. Se essa relação pode em certos aspectos verificar-se, há contudo um grupo alargado de pessoas, bens, ocorrências e momentos que em Viseu ou por Viseu passam (a um outro nível, por exemplo, o Dr. Azeredo Perdigão, primeiro presidente da Fundação Callouste Gulbenkian e ex-advogado do “exilado” arménio). Entre outras possíveis indicações, não há lugar a que se pensem as Beiras como última paragem dos que delas não podiam sair embora, em rigor, muitos o tenham tentado e conseguido, assim que a oportunidade surgisse.
De tanto propalar o duro homem das “Terras do Demo”, propagou-se o mito da dureza sem esperança e de uma cidade mais pobre que outras de igual formato, apelo ou dimensão. Essa será uma faceta de um outro falso, porventura.
A Escola de Sagres, sendo Hoje considerada pelos historiadores mais como uma putativa nomenclatura ou de “contra-espionagem” ou de agregação de um conjunto de processos, conhecimentos e seus agentes, no período de inicial vocação marítima nacional, não terá existido efectivamente.
Portugal não tomou parte efectiva na II Guerra Mundial, no entanto sempre pareceu mais próximo (ideológica e governativamente) aos estados totalitários constituintes do Eixo. Apesar de tudo, ocorreram no país alguns dos mais rocambolescos episódios de espionagem durante a IIGM, fruto do estatuto de neutralidade que o país conseguiu junto dos beligerantes, e efectivamente em vários momentos foi solicitado que interviesse junto de uma ou outra facção. Repetindo o que anteriormente foi dito: a História do século XX português vai-se fazendo, estando ainda por alcançar.
As comemorações dos centenários (1940) procuraram ser uma chamada de atenção ao Mundo, sobre o papel, valor e importância – bem como petição de confirmação de soberania sobre os territórios ultramarinos – reafirmando a antiguidade e “feitos”dos portugueses. Com o advento da IIGM, o que inicialmente se propunha ser uma “Expo” internacional, tornou-se mais interno, sendo, ainda assim um dos mais marcantes momentos da propaganda do Estado Novo.