Aquilino Ribeiro descasca batatas no Presídio do Fontelo
AUTORA: Cris Nogueira
DIMENSÕES: 180x220mm
MOLDURA: Madeira de Carvalho, 480x520mm
LOCAL: Solar do Vinho do Dão
FIGURANTE: João Rocha
DATA: 2012
N.º DE INVENTÁRIO: MF.2012.006
Memória Descritiva
Aquilino Ribeiro apreciava uma boa refeição, de sabores beirões, em boa companhia e tinha sempre muito cuidado com a sua aparência. Imagina-se que não terá iniciado a fuga do Presídio do Fontelo sem antes ter degustado um bom jantar na companhia dos seus fiéis amigos. Com essa ideia partiu-se para a criação de uma falsa fotografia durante o seu tempo no presídio.
Com recurso a fotografias de época de Aquilino Ribeiro procurou-se um modelo que se adequasse e se propusesse fazer a figuração para este efeito, foi João Rocha quem se dispôs a esse papel.
A pesquisa dos espaços disponíveis no Solar do Vinho do Dão que mantivessem vestígios de época, finais dos anos 20 resultou no espaço da cozinha que embora tivesse algumas marcas da modernidade, como candeeiros de parede, estes suprimidos na pós-produção. É uma fotografia digital, com tratamento em Photoshop, em exposição múltipla – reflexo de Aquilino no vidro da porta do armário – e correcção da textura e balanço de cor para o processo de envelhecimento.
Para a moldura foi usado carvalho por se considerar ser uma madeira nobre e endógena desta região. A construção foi feita por um marceneiro local dando um relevo central ao tamanho da imagem. Com a ajuda de José Lorena, foi feito o tratamento de envelhecimento da madeira com soda caústica e a superfície posteriormente lixada para lhe conferir efeitos. Colagem da fotografica à madeira com acabamento de betume judaico e aguarrás para retirar o brilho das impressões em papel fotográfico actual e criar homogeneidade no trabalho final.
A Falsidade Explicitada
“Perdoo tudo! Até mesmo que me roubem, só não perdoo a um homem preso que não se esforce por fugir!”
Aquilino Ribeiro foi preso em Mangualde, a 20 de julho de 1928, após a tentativa de evitar o descarrilamento do comboio que transportava os revoltosos “Caçadores 10 de Pinhel” em direcção a Lisboa.
Ficou detido no Presídio do Fontelo, em Viseu, onde desde logo começou a preparar a sua fuga. A 15 de agosto, dia de festa da Nª Sra. da Lapa, recebe amigos próximos, cúmplices no plano de evasão. Uma grafonola para abafar o som, um serrote ardilosamente escondido num cesto de bolos e uma chave moldada por mestre forjador. Um buraco no sobrado e uma porta aberta na loja por baixo da prisão, a liberdade rumo ao exílio, em Paris.
Aquilino protagonizou esta história rocambolesca, sendo um símbolo intemporal do não conformismo, a luta pelos ideais republicanos, em demanda constante pela liberdade e justiça social, muito ao estilo de um dos personagens que admirava Sancho Pança.