Poema Inédito de
Judith Teixeira
AUTORA: Ana Seia de Matos
TIPOLOGIA: Poema e desenho
DATA: 2012
N.º DE INVENTÁRIO: MF.2012.003
Memória Descritiva
Ao escolher a escritora Judith Teixeira, inteirei-me primeiro do que foi a sua vida e a sua obra. Por ser uma autora pouco conhecida em Viseu, achei que seria curioso se se encontrasse um texto inédito, que a desse a conhecer novamente ao público, apesar de falso.
Restava-me então decidir de que forma teria sido encontrado o documento, sendo que depois decidi passarem a dois documentos (um perfil desenhado e o poema dactilografado). Ao criar a história da descoberta, achei que enriqueceria a peça, em termos de instalação, introduzir um elemento que “confirmasse” a realidade da história e optei pela gaveta velha e suja, testemunha da passagem do tempo.
Por Judith Teixeira ter sempre o elemento natural muito presente nos seus poemas, assim como as suas manifestações mais violentas, como as tempestades e os ventos, etc, fazia sentido para mim que a peça estivesse no exterior.
A gaveta exposta aos elementos, e os papéis, apesar de protegidos pela placa em acrílico, também sujeitos à acção da luz do sol, uma vez que o sítio escolhido estrategicamente, a partir de uma determinada hora da tarde, é bastante fustigado por esta luz.
Para concretizar estas ideias foram usadas ripas de madeira e uma placa também de madeira. Após serem montadas em duas estruturas autónomas foram pintadas de branco. Foi comprada também uma placa em acrílico. Estes três elementos compõem as estruturas onde estão expostas as peças “descobertas”. Uma corrente liga a placa em acrílico a uma das estruturas em madeira. As peças a expor são uma gaveta antiga e gasta, pregada na placa de madeira e dois papéis amarelecidos presos no interior da placa em acrílico.
A Falsidade Explicitada
Judith Teixeira é um nome importante na literatura portuguesa, não obstante a escassa produção literária. Copiosamente atacada, vilipendiada mesmo por alguns “produtores da moralidade”, espanta, à distância de pouco menos de um século, que a sua acção produtiva e subtilmente insubmissa seja ainda pouco lembrada porque tão estranhamente esquecida. E, pensando bem, esta marginalização misógina aconteceu ainda na laica República da década de vinte do mesmo século, assim se comprovando os estranhos labirintos de uma instauração há pouco festejada.
Nascida em Viseu, no dia 25 de Janeiro de 1880, foi baptizada na Sé Catedral da cidade, em 1 de Fevereiro desse ano, estigmatizada desde logo por ser filha natural da solteira Maria do Carmo. Depois de acções judiciais por si intentadas, é perfilhada, em 1907, pelo alferes de infantaria Francisco dos Reis Ramos, passando a usar como nome completo Judith dos Reis Ramos. E assim viveu na cidade de Lisboa, primeiro, na rua do Arco do Carvalhão, e depois, na rua Rodrigo da Fonseca, onde viveu com o primeiro marido, Jaime Levy Azancot, até à dissolução do casamento em 1913, tendo a futura poetisa ficado acusada de adultério e abandono do lar. (…)