“Fugir do Amor”

AUTOR: Abílio Cardoso, músico (1929–2001, Viseu, Portugal)
TIPOLOGIA: Registo em cassete (digitalizado)
DATA: 1967
LOCAL DO REGISTO: Estrada Velha de Abraveses, Viseu
DURAÇÃO: 02’30”
N.º DE CATÁLOGO: #033
N.º DE INVENTÁRIO: MF.2021.006
PROVENIÊNCIA: Ana Bento e Bruno Pinto

Contextualização

Abílio Cardoso foi um músico viseense nascido em 1929 que viveu na Estrada Velha de Abraveses. Foi também neste lugar que viveu Ermelinda Balula, sua vizinha, por quem Abílio teve uma grande paixão desde a infância.

Com dez anos de idade Ermelinda emigrou com a mãe e irmãs para o Brasil e Abílio não a veria mais pessoalmente, mas ficou-lhe Ermelinda gravada na memória.

Do lado de cá do oceano, quer pelas revistas da época como “O Cruzeiro” ou a “Revista do Rádio”, quer perguntando por ela a quem regressava do Brasil, Abílio foi acompanhando a carreira de Vera Lúcia, nome artístico com que entretanto Ermelinda Balula ficara conhecida.

Vera Lúcia entretanto lançou diversos discos de 78 rpm e com o primeiro LP, “Confidências”, ganhou dois discos de ouro. A sua carreira foi fulgurante nos anos 50 e ainda 60, gravando frequentemente. Destacou-se a dada altura a sua eleição como Rainha do Rádio (Rádio Nacional em 1955) e é de menção também a sua gravação a partir do final dos anos 50, de algumas peças iniciais de António Carlos Jobim.

Abílio pontualmente escrevia-lhe cartas, mas nunca as chegou a enviar.

Entrevista de Vera Lúcia no n.º 197 de 1953 da “Revista do Rádio” (págs. 16 e 17).

A canção “Fugir do Amor”, composta e gravada por Abílio Cardoso, supõe-se, só pode ter sido composta nalgum tempo depois deste ter lido a entrevista de Vera Lúcia no n.º 197 de 1953 da “Revista do Rádio” (págs. 16 e 17), onde a cantora refere, entre outras confidências, ter vontade de “fugir do amor” por considerá-lo “perigoso”. Pensa-se que o autor terá mais tarde, aproveitando o advento e a disseminação do formato da cassete compacta, gravado versões simples desta e doutras canções em gravador portátil na sua casa situada então na Quinta dos Cardosos onde hoje se dispõe o Bairro São João das Lameiras, na Estrada Velha de Abraveses.

Em 2001 Ana Bento e Bruno Pinto vão viver para uma moradia no Bairro São João das Lameiras, Viseu e alguns meses depois de assentarem arraiais, iniciam o arranjo do pequeno terreno exterior da casa, cavando a terra com a intenção de semear relva. Qual não é o espanto quando a enxada corta e se estanca em algo estranho. Ao resgatarem o objecto da terra, verificam que ser uma caixa bonita e envelhecida, carcomida, enferrujada. Dentro da caixa encontravam-se alguns pertences que identificariam depois como sendo de Abílio Cardoso: uma cassete com canções originais gravadas provavelmente a meio dos anos 60 num daqueles primeiros gravadores de cassetes compactas no mercado, como o Philips EL 3300, algumas partituras assinadas por Abílio, entre elas a deste tema “Fugir do amor” que inclui uma dedicatória a Vera Lúcia, um artigo de revista com entrevista à cantora, de onde se retira uma ligação directa à composição da letra do tema e que é de facto dedicado à artista, sua paixão de infância nunca esquecida, e ainda algumas cartas fechadas dentro de envelopes, endereçadas a Vera Lúcia Ermelinda Balula.

Tudo leva a crer que Abílio Cardoso manteve sempre na lembrança a sua paixão de infância e depois acompanhando à distância, fascinado, a vida artística mediática de Vera Lúcia, terá a certa altura pensado que preferia deixar resguardada do conhecimento de outros esta sua “obsessão” antiga e algo imberbe e esconder o melhor possível a informação que poderia revelar isto mais explicitamente a amigos e família.

Abílio Cardoso, contam familiares e filhos de amigos, era músico com alguma formação, guitarrista, tocava fado e também integrava os conjuntos de baile da época, tendo realizado alguns trabalhos de composição de canções inéditas que tocaria apenas para alguns amigos, em festas ou reuniões de amigos. Era muito interessado pela música e pelas novidades que chegavam do Brasil, estudando na guitarra para seu bel-prazer a música que por lá se fazia, em especial aquilo que viria a ser consolidado nos anos 60 como bossa-nova, como se pode notar nesta canção “Fugir do Amor”, impregnada da harmonia e balanço próprios do estilo.

FUGIR DO AMOR (Letra)

Sua boca tem o mais perfeito sorriso,
seu riso é vida nova.
Meu coração segue aflito, porquê?
Não fuja, quero estar perto de você.

Meses e anos passaram,
mas você está aqui comigo.
Nunca esqueci você
(menina virada mulher).
Meu amor perdido,
meu bem-me-quer.

Não tem perigo não,
não é onça ferida, nem criança perdida.
Tudo vai perder seu sabor
se decidir fugir do amor.

Então fica comigo,
seguimos nosso caminho.
Apaga essa vontade
de fugir do amor.
Aceita a felicidade,
não fuja do amor.
Quando o amor é de verdade
não pode fugir do amor.

Esta incorporação, no acervo do Museu do Falso, teve como Parceiro Institucional

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