Gelatinobrometo Relvas
AUTOR: Carlos Relvas
TIPOLOGIA: Fotografia (Negativo de vidro, gelatinobrometo)
DIMENSÕES: 180x240mm
DATA: c. 1860
Contextualização
Peça original, negativo de vidro (gelatinobrometo) 18X24, do fotografo Carlos Relvas, início dos anos 60 do século XIX.
Imagem da casa estúdio do fotografo Carlos Relvas em Viseu, propriedade de Carlos Relvas e Margarida Mendes de Azevedo.
Coleção Particular PMCR Viseu, intervenção de restauro e estabilização da peça em Maio de 2012.
Quem foi relvas?
Carlos Relvas é uma das figuras centrais da história da fotografia portuguesa, com obra reconhecida e premiada internacionalmente. Dizendo-se com orgulho “amador”, Relvas foi contudo um amador esclarecido. Estamos perante um experimentalista, um investigador, obcecado pela perfeição técnica e com um apurado sentido estético.
Filho de um rico abastado proprietário da Beira Interior que se instalara com sucesso no Ribatejo, Carlos Relvas nasceu no Palácio do Outeiro, em plena vila da Golegã, em Novembro de 1838.
Educado por professores particulares, aprendeu ciências e línguas, com destaque para o francês. No entanto, depressa se deixa atrair pelas actividades ao ar livre, distinguindo-se de igual modo no tiro de pistola e carabina, como jogador de pau, florete e sabre, ou na equitação. Era um verdadeiro sportsman.
Em 1853, ainda muito novo, casou-se com Margarida Mendes de Azevedo, filha dos viscondes de Podentes. Dessa união nascem cinco filhos. Um deles, José Relvas, virá a distinguir-se na contestação ao regime monárquico, proclamando a República da varanda da Câmara de Lisboa.
Relvas interessou-se sobretudo pela fotografia, produzindo uma obra de grande envergadura, onde se destaca também o estúdio de Viseu que construiu no jardim da sua residência onde passava férias com a sua primeira esposa depois do casamento. A par do seu estúdio em Viseu, Carlos Relvas constrói um segundo local de trabalho na Golegã, onde reside. Além de fotógrafo, foi ainda político e lavrador, criador de cavalos e cavaleiro, inventor, e até músico.
Classificá-lo enquanto fotógrafo, inserindo-o em qualquer escola artística, é tarefa difícil. As temáticas variadas, a utilização frequente do grande formato, o modo de execução e os tipos de impressão, a escolha dos assuntos e a aplicação da iluminação, confirmam-no apenas como um exímio criador que se aventurou por múltiplos caminhos.
Foi sem dúvida um grande retratista, fotografando no seu primeiro estúdio em Viseu e mais tarde na casa estúdio Relvas na Golegã, toda a sociedade portuguesa, desde camponeses e mendigos até à aristocracia. Mas fotografou também monumentos e paisagens, onde o seu contributo é admirável. Por outro lado, convém não esquecer o seu especial apreço pela fotografia de animais, sendo o seu trabalho fundamental para o estudo da tourada.
Relvas começou a interessar-se pela fotografia no início dos anos 60 do século XIX. Fascinado pela nova arte, adquire livros e revistas da especialidade, mantendo-se a par da sua evolução. Compra também as suas primeiras máquinas e instala um pequeno atelier fotográfico no jardim da sua propriedade em Viseu, onde faz as suas primeiras experiências a fotografia.
Entretanto, viaja pela região centro do país e fotografa vários dos principais monumentos portugueses. Envia as suas fotografias para os maiores especialistas franceses e vê-se admitido em 1869 como membro da prestigiada Sociedade Francesa de Fotografia. O sucesso alcançado leva-o a projectar um novo e ambicioso empreendimento: uma casa-estúdio especificamente destinada ao desenvolvimento da arte fotográfica, que virá a concluir em 1876.
Com uma vida preenchida, Relvas dedicou-se a diversas actividades, mas a fotografia permanecerá sempre como a sua grande paixão. Inventa um aparelho para facilitar as focagens, aplica a fotografia estereoscópica e introduz e divulga em Portugal o método da fototipia.
Medalhado em vários certames, como na Exposição Universal de Viena e de Paris, colabora também na realização de exposições, na organização de clubes dedicados à fotografia e no lançamento de publicações especializadas, sendo a mais importante a revista “A Arte Fotográfica”, editada no Porto.
Já numa fase mais adiantada da sua carreira, adopta as novas possibilidades da fotografia, como a utilização de câmaras com lentes rápidas. Começa então a fazer fotografias que captam o conjunto de uma cena social, com indivíduos, movimento, acção. Fotografa lugares cheios de actividade, como um repórter, tornando-se no final da vida um fotógrafo moderno.